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Via Jornal do Comércio

Quem gosta de ficção científica dificilmente verá, nas próximas décadas, a materialização de sonhos como carros voadores ou máquinas de teletransporte. Especialistas em mobilidade e montadoras dizem que a tendência é de que os veículos passem a se assemelhar cada vez mais a equipamentos amplamente difundidos: os smartphones. Isso implicará o aumento da conectividade e, por consequência, um melhor planejamento de trânsito através da tecnologia.

O professor da escola de Engenharia da Ufrgs e ex-Secretário Municipal de Mobilidade Urbana de Porto Alegre Luiz Afonso dos Santos Senna participou de um grupo de trabalho, reunido pela BMW, justamente para discutir o futuro da mobilidade. O estudioso adianta que entre os avanços tecnológicos que devem acontecer nas próximas décadas estão carros conduzidos por sensores, sem a necessidade de motoristas. A perspectiva também é de que os automóveis comecem a incorporar funções comuns em smartphones e tablets, com a possibilidade de mostrar informações no parabrisa.

Senna reforça que é possível perceber que uma parcela da nova geração não aprecia o produto automóvel. Porém, ele argumenta que esses jovens não gostam da velha concepção dos carros e os veículos deverão passar por uma revolução tecnológica e redução do caráter poluidor. Um dos focos do trabalho promovido pela BMW foi projetar o que acontecerá nos próximos anos com a mobilidade em países emergentes como o Brics – Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul – comparados a nações consolidadas como Alemanha, Estados Unidos, Austrália e Japão.

De acordo com Senna, uma das conclusões foi de que o Brasil é o país que provavelmente mais sofrerá, nos próximos 20 anos, mudanças no sentido de se aproximar dos níveis de motorização que os países desenvolvidos encontram-se hoje. Atualmente, a taxa média de motorização no Brasil é da ordem de um veículo para cada oito pessoas, e nos Estados Unidos é de um para cada dois habitantes.

Em virtude dessa perspectiva, a tendência é de que haja maiores dificuldades no trânsito nas grandes cidades. Porém, ressalta o professor, o fato de haver muitos veículos em locais desenvolvidos não significou necessariamente que esses lugares ficaram sob uma condição de imobilidade. “Ter um automóvel não quer dizer usá-lo o tempo todo”, argumenta o especialista. Assim, cria-se uma “janela” para o crescimento do transporte público também.

Apesar de prever que o transporte público crescerá paralelamente à motorização no Brasil, Senna alerta que é pouco plausível uma expansão robusta do sistema de metrô. O professor salienta que cidades com densas redes, como Paris e Londres, tiveram as estruturas construídas quando os custos dos empreendimentos eram menores. O ex-secretário recorda que, enquanto São Paulo, o município brasileiro com a malha mais extensa, tem cerca de 70 quilômetros, as capitais da França e da Inglaterra possuem 500 quilômetros. “Não é provável que cidades como Porto Alegre venham a ter redes de metrô”, acrescenta. A expectativa é de que o desenvolvimento do transporte público se dê pelos ônibus e veículos leves sobre trilhos (VLTs).

Vias ficaram ultrapassadas para demanda de motoristas

Entre os pontos que causam os engarrafamentos hoje em dia estão a facilidade da aquisição de automóveis e o conforto proporcionado pelo transporte individual. Outra dificuldade são as cidades com grande concentração de moradores, com o espaço urbano nem sempre sendo bem-planejado, e com o verdadeiro “engessamento” das ruas.

O professor da faculdade de Engenharia da Pucrs Rafael Roco de Araújo sustenta que as vias precisam ser ajustadas à nova realidade. “Não podemos pensar que vamos dar conta da quantidade de veículos que temos hoje com uma infraestrutura de 40 anos atrás”, frisa. O professor comenta que, quanto a soluções possíveis no campo da Engenharia Civil, há vasta tecnologia a ser aplicada na construção de túneis e viadutos.

Sobre combustíveis, a expectativa de Araújo não é de uma mudança radical, mas, certamente, deverá haver uma inserção cada vez maior de carros elétricos e do uso do hidrogênio para veículos pesados, assim como a utilização dos biocombustíveis. Esses recursos deverão ser desenvolvidos a partir da pressão da sociedade e devido à oscilação do preço do petróleo.

Quanto aos automóveis, a tendência é da diminuição do consumo. E, no transporte de cargas, Araújo enfatiza que os caminhões já atingiram um alto grau de aprimoramento. Inclusive, esse patamar tecnológico implica dificuldades na questão de contratação de motoristas para operar esses veículos. Nessa área, o professor cita como experiências de vanguarda as desenvolvidas pelo grupo Daimler AG (detentor da marca Mercedes-Benz).

Em maio do ano passado, o caminhão autônomo Freightliner Inspiration Truck, com piloto automático Highway Pilot, tornou-se o primeiro desse tipo no mundo a obter licença para uso em estrada (no caso, em Nevada, nos Estados Unidos). Em julho de 2014, a companhia já tinha dado a primeira demonstração de um caminhão autônomo em ação quando o Mercedes-Benz Future Truck 2025 foi conduzido ao longo de um trecho isolado de estrada expressa.

O professor da Pucrs acrescenta que é possível notar empresas do segmento de TI sendo atraídas por essa brecha do mercado de mobilidade, com interesse em desenvolver veículos elétricos e até mesmo drones para transporte de uma pessoa. “Quando se tem essas iniciativas, esse espírito inovador, em algum momento essas soluções chegarão ao mercado”, prevê.

O professor da escola de Engenharia da Ufrgs Luiz Afonso dos Santos Senna complementa que, em 10 anos, se espera que os carros sem motoristas passem a ser comuns, principalmente, nas metrópoles maiores. Senna adverte que essa situação fará com que se repense todo o arcabouço legal sobre de quem será a responsabilidade de um acidente com esse veículo, se do usuário ou daqui a pouco do fabricante.

Veículos autônomos devem elevar segurança no trânsito

Uma das apostas das empresas que desenvolvem tecnologias de automóveis inteligentes é de que o produto poderá diminuir os índices de acidentes. A Nissan é uma das montadoras que trabalha fortemente no desenvolvimento do carro autônomo, que vai funcionar sem a interferência direta do motorista (que atuará apenas quando necessário). Para isso, a marca desenvolve o projeto “Autonomous Drive”, que pretende colocar os primeiros veículos que “andam sozinhos” nas concessionárias até 2020.

Esse tipo de carro vai atender a pessoas idosas, com dificuldades de locomoção e capacidade para dirigir e as grandes cidades, que sofrem com o excesso de tráfego. “Tudo sem emitir poluentes, pois serão carros 100% elétricos, que não despejam elementos tóxicos no ar”, reforça o especialista de Produto da Nissan do Brasil Automóveis, Alexandre Carvalho. Além disso, esses automóveis terão a missão de reduzir acidentes, normalmente causados pelo fator humano.

Um dos carros da Nissan com essa tecnologia é o IDS (Intelligente Driving System, que pode ser traduzido para o português como Sistema de Condução Inteligente), apresentado no Salão de Tóquio, em outubro passado. Ele sintetiza a visão da Nissan para o futuro dos veículos elétricos e de condução autônoma. Desenvolvendo um complexo sistema de sensores e inteligência artificial, aproxima os veículos, segundo a empresa, de uma potencial realidade com zero fatalidades.

No ano que vem, a Nissan lançará comercialmente o crossover Qashqai com o sistema “Piloted Drive”. Será o primeiro veículo da Nissan na Europa a contar com tecnologia de condução autônoma, que permite que carros circulem “sozinhos” em uma faixa com tráfego intenso. Em 2018, a Nissan vai lançar veículos equipados com o “controle de múltiplas faixas”, que permite ao veículo lidar por conta própria com ameaças e mudar de faixas durante a circulação em estradas. E em 2020 será o ano de lançamento da “autonomia de intersecção”, que será capaz de navegar em intersecções de cidades e trânsito urbano intenso sem a intervenção do motorista.

Para Carvalho, a direção inteligente melhorará a habilidade do condutor de ver, pensar e reagir. O sistema compensará o erro humano, que causa mais de 90% de todos os acidentes de carro. “Como resultado, o tempo gasto atrás do volante será mais seguro, eficiente e divertido”, projeta o especialista. Esses veículos funcionarão como um parceiro de direção, uma vez que a performance do carro imitará o estilo e a preferência de seu motorista e proverá informações a respeito de condições de trânsito, compromissos do motorista e até mesmo interesses pessoais.

Quanto ao perfil do público no futuro, Carvalho antecipa que é esperada uma geração de motoristas chamados “nativos digitais”, caracterizando as pessoas que cresceram e estiveram conectados com a internet 24 horas por dia. Como a Nissan pesquisou os interesses e atitudes dos futuros consumidores de carros, designou-se um termo para descrever esse novo público: “nativos do compartilhamento” (por trocarem informações e gostos o tempo todo).

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De acordo com Carvalho, um conceito visionário como o veículo Teatro For Dayz, apresentado no quadragésimo quinto Tokyo Motor Show, em 2015, visa a entender estes futuros clientes. O modelo parte do conceito de ser uma tela em branco. A aparência do veículo pode ser modificada de acordo com a vontade de cada um, graças a tecnologias de exibição de imagens. Assim, os bancos giratórios, encostos de cabeça, revestimentos das portas e painel de instrumentos se tornam telas em movimento.

Executivo diz que escala diminui custos de produtos

É notório que injetar tecnologia em um produto faz com que o preço dele aumente. Entretanto, o gerente-geral de Marketing da Ford Brasil, Oswaldo Ramos, argumenta que, quando as empresas ganham escala de fabricação, os custos caem. Além disso, a tecnologia tende a ser democrática, estando presente nos itens de maior valor agregado, mas também nos mais acessíveis financeiramente.

Exemplos dentro da Ford são o Fusion Hybrid, que possui comandos de voz, possibilitando que o motorista atenda a chamadas, controle funções de áudio, ar-condicionado e navegador sem tirar as mãos do volante; e o popular Ka, equipado com o rádio My Connection (que permite a conexão com aparelhos como celulares, iPods e pen drives), bluetooth e entradas USB e auxiliar.

Ramos ressalta entre as tendências vislumbradas para o futuro o aumento da conectividade, assim como os veículos autônomos. “Nota-se uma necessidade cada vez maior de, ao estar no carro, estar conectado, não somente por causa de informações de trânsito, mas também devido ao entretenimento”, afirma. Esse contexto, da conectividade combinada com os veículos autônomos, conforme o gerente da Ford, proporcionará algumas soluções de mobilidade.
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Os órgãos de fiscalização de trânsito poderão aproveitar o conhecimento das posições dos veículos na cidade para traçar as melhores estratégias para evitar engarrafamentos. “Sabendo onde está cada carro e como está o tráfego, é possível distribuir os automóveis pelas ruas como se fosse a água percorrendo os canais que estão vazios”, compara Ramos.

A tecnologia deverá implicar ainda a redução de acidentes, confirmação de disponibilidade de vagas de estacionamento, semáforos inteligentes etc. Ramos frisa que o espaço de tempo para as novidades apresentadas nos mercados automobilísticos europeu e norte-americano chegarem ao Brasil tende a diminuir. “No nosso caso (da Ford), o intervalo não supera um ano, pois, quando o consumidor sabe que existe uma determinada tecnologia, ele passa a exigir”, salienta.

No cenário internacional, no começo deste ano, a Aliança Renault-Nissan (parceria entre a empresa francesa e a japonesa) anunciou que vai lançar mais de 10 veículos equipados com tecnologia de condução autônoma nos próximos quatro anos. O grupo automobilístico confirmou também o lançamento de uma gama de veículos equipados com capacidades autônomas nos Estados Unidos, Europa, Japão e China, até 2020. “Atingir os objetivos de zero emissões e zero fatalidades é um grande compromisso da Aliança Renault-Nissan”, declarou o CEO da Aliança, Carlos Ghosn.

Fonte: Jornal do comércio | www.jcrs.uol.com.br
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