Via O Progresso
Unidos, caminhoneiros conseguem baratear custo de manutenção do veículo e se sentem protegidos para trafegar pelo Brasil
Na boleia do caminhão, José Carlos Marques passou mais da metade da vida defendendo o pão de cada dia e transportando riquezas pelo país. Aos 63 anos, ele lembra com orgulho e apreensão quando fala dos 35 dedicados à profissão. Hoje não dirige mais, contudo mantém uma rotina diária de trabalho voltado à classe dos caminhoneiros, como presidente da Cooperativa de Apoio aos Transportadores Rodoviários de Mato Grosso do Sul (Coopersul), localizada em Dourados.
O Brasil conta com uma frota de caminhão superior a dois milhões, segundo último relatório do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e somente em Dourados passa de 500 veículos, conforme estimativa de José Carlos Marques. “É uma frota grande e os profissionais ainda precisam melhor se organizar para ficar fortalecidos”, afirma o ex-caminhoneiro.
O transporte de carga é um serviço essencial no país, para a cadeia de produção e distribuição de bens industriais e agrícolas, tanto que 58% desse tipo de transporte, conforme o Ministério dos Transportes são feitos por rodovias. Mesmo com tanta responsabilidade, a categoria se sente desprestigiada e vê cada dia mais os insumos encarecerem e o valor do frete não acompanhar a inflação.
Uma das saídas para driblar este problema tem sido a busca pelo cooperativismo. Em Dourados, a Coopersul conta com 85 cooperados e a proposta da entidade é a de dobrar o número de participantes até o ano que vem, com a implantação de uma autopeças. Criada em 2012, a cooperativa teve um período de um ano e meio de dificuldades até se fortalecer e com planejamento almeja novos passos.
O presidente José Carlos lembra que a segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul sempre foi carente na atenção aos caminhoneiros. Por isso, na companhia do colega João Lopes, decidiu encontrar uma alternativa para fortalecer a categoria. “Fomos buscar informações jurídicas sobre a melhor forma de ajudar os caminhoneiros e constatamos que a criação de uma cooperativa seria a melhor saída. Foi aí que conhecemos a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) de Mato Grosso do Sul, que nos deu apoio e assistência para a criação da Coopersul”, relata José Carlos.
A cooperativa entrou em atividade com aproximadamente 20 associados e aos poucos foi se fortalecendo até atingir os 85 cooperados. Quem participa está satisfeito, garante ser vantajoso e não pensa em sair. José Cícero dos Santos, de 69 anos, é um deles. Cooperado desde a criação da Coopersul, ele diz que em quatro décadas dirigindo caminhão nas estradas, os últimos anos têm sido os melhores.
“Meu trajeto é São Paulo e Paraná e, pela primeira vez, me sinto seguro e protegido. Todo mundo na cooperativa é tratado por igual e em termos de custo e benefício é mais vantajoso fazer parte da cooperativa se comparado a ser cliente de uma seguradora particular”, avalia o caminhoneiro. Nem por isso, ele deixa de tomar os cuidados de segurança no dia a dia quando pega a estrada.
Na Coopersul, as vantagens para os cooperados vão desde o preço do diesel ser mais acessível, através de parceria com postos, até óleo, pneu. O presidente José Carlos diz que os insumos são adquiridos a preços mais acessíveis no Rio Grande do Sul e repassados no mesmo valor aos cooperados. “Isso é possível porque, também, temos parceria com grandes fornecedores e adquirimos mais barato”, explica. O que é repassado aos caminhoneiros através da cooperativa chega a ser 30% mais em conta se comparado com o mercado tradicional.
Por não ter fins lucrativos nem vantagens desiguais, na Coopersul, toda a arrecadação dos cooperados é revertida em prol da própria categoria. Para ser cooperado, há taxa de adesão de R$ 1.000 e mensalidade que varia de R$ 280 a R$ 970, de acordo com o porte do caminhão. Podem ser associados, caminhoneiro autônomo e empresários que possuem caminhões.
Além dos insumos mais acessíveis, na Coopersul os caminhoneiros têm seguro de sinistros como roubo, incêndio e assistência quando o veículo sofre problema mecânico. Só não há cobertura para terceiros, em caso do caminhoneiro se envolver em acidente. Todos os veículos são rastreados.
No estado
Em Mato Grosso do Sul há seis cooperativas ligadas ao transporte de cargas e todas filiadas ao sistema OCB-MS. Juntas, elas têm 406 cooperados. A maior delas é a Cooper São Gabriel – Cooperativa Agrícola Mista de São Gabriel do Oeste, com 175 associados. Em seguida vem a Coopersul de Dourados, com 85 integrantes, e a Contransidro – Cooperativa de Transporte de Sidrolândia, com 60 associados.
As demais cooperativas são a Cootrapan – Cooperativa dos Transportadores do Estado do Pantanal, com 34 associados; a CTB – Cooperativa de Transporte do Bolsão, com 27 associados, e a Cootrasgo – Cooperativa de Transportes de São Gabriel do Oeste, com 25 associados.
Onde circulam
O país tem 1,7 milhão de quilômetros de estradas, porém, segundo o Departamento Nacional de Transportes Terrestres (DNIT), 79,5% são de chão e apenas 12,9% pavimentadas. Isso demonstra que os caminhoneiros chegam a percorrer lugares remotos e intrafegáveis, sem contar com as rodovias pavimentadas, mas em estado precário.
As condições das rodovias deixam a desejar, se analisados ainda os 9.522 quilômetros de pistas duplicadas, muito abaixo dos 192.569 quilômetros de rodovias simples, dificultando o fluxo do tráfego. Os desafios diariamente são grandes.
Anderson Moraes é sócio de uma empresa de transporte de cargas localizada na cidade de Amambai (MS). Ele e o irmão têm cinco caminhões e diz que a principal rota são os estados de Mato Grosso do Sul e Paraná, cujo destino é o porto de Paranaguá. Há pouco mais de dois meses, um dos veículos da empresa tombou às margens de rodovia e todo o trâmite burocrático foi resolvido pela Coopersul.
“Estou na atividade de transporte de cargas há três anos e, mediante pesquisa de mercado, identifiquei que o mais vantajoso seria participar de uma cooperativa. Independentemente dos desafios que a profissão exige, no dia a dia, estou seguro porque sei que fiz a parceria certa quando decidi incluir a empresa no ramo de cooperativa”, conclui.
Mais conforto
O presidente José Carlos Marques lembra ainda que, antigamente, o caminhoneiro tinha que ir para o trabalho bem cedo e nem sabia se iria concretizar o serviço. Hoje, aguarda ser chamado na própria casa, cuidando de sua família. Ganho valioso, principalmente quando é cooperado.
“Temos aqui na Coopersul empresas parceiras que solicitam transporte de cargas e todo o serviço é distribuído entre os cooperados. Mas eles [caminhoneiros] também podem atuar por conta própria, afinal todos são independentes”, explica o representante da categoria em Dourados e região. A entidade reúne cooperados de várias cidades do sul de Mato Grosso do Sul.
Valorização
Rodovias em más condições, insumos caros, frete barato e risco de assalto são classificados como os principais entraves na vida do caminhoneiro autônomo e das empresas de transportes de cargas. O cooperado Jones Ferreira, em Dourados, administra uma empresa com seis veículos e sabe muito bem desta situação. “Por sermos uma categoria tão importante para o país, deveria haver uma política de valorização da classe. Como nossa empresa é de pequeno porte, somente através da cooperativa nos sentimos mais fortalecidos”, avalia.
O caminhoneiro Carlos Roberto Rodrigues, da cidade de Ponta Porã, tem mais de três décadas de experiência de estrada e dois anos de cooperado. Para ele, que hoje possui três caminhões, a cooperativa tem sido a principal vantagem para manter os veículos na ativa, ainda assim diz que não é fácil e vê a categoria desvalorizada, principalmente quanto ao frete. Ele cita como exemplo o valor pago no início de safra que chegou a R$ 200 por tonelada, com destino ao porto de Santos (SP), e atualmente encontra-se em R$ 130. Por conta dessa queda teve que dispensar caminhoneiros que trabalhavam para ele e deixou, até então, a função de administrador dos veículos e voltou a pegar a estrada.
Fonte: O Progresso | www.progresso.com.br
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