Via O Carreteiro
por Daniela Giopato
Fotos: Alexandre Andrade
Diante das dificuldades para superar a falta de carga e aumento dos custos de operação, se manter no mercado este ano não foi tarefa fácil e exigiu mudança de postura dos motoristas, principalmente dos autônomos. Além da boa e velha planilha de custos para controlar despesas e negociar melhor os fretes, a busca de novas relações e rotas também fizeram parte do pacote de sobrevivência. No final, apesar de todos entraves para se manter vivo e na atividade, para muitos carreteiros restaram o aprendizado com a crise, como a exigência de organização principalmente, para enfrentar o ano de 2017, o qual não sinaliza ser muito diferente de 2016.
O autônomo Marcio Mohr, 38 anos de idade e 20 de profissão, de Chapecó/SC, viaja atualmente por todo o Brasil, mas antes da crise sua rota era apenas São Paulo. A falta de carga o levou a buscar alternativas e hoje, conforme explica, está mais focado na região Nordeste. Porém, no novo cenário ele disse que permanece muito mais tempo viajando e chega a ficar até mais de dois meses na estrada. “Antes, não passava de uma semana longe de casa. Além disso os custos subiram muito e meu faturamento caiu mais de 20%. Esse ano é um ano para ser esquecido”, enfatiza.
O carreteiro disse também que a crise aumentou sua atenção com a manutenção do caminhão, para melhorar o consumo de combustível. Afirma que sempre cuidou bem do veículo, porém agora é fundamental evitar qualquer imprevisto que possa comprometer ainda mais o orçamento. “Hoje, dirigir com economia é questão de sobrevivência”, reconheceu, dizendo que está mais preparado para encarar os desafios que estão por vir. Para concluir, Marcio Mohr contou que pela primeira vez sofreu um assalto à mão armada, na região de Salinas/MG. “Nunca tinha passado por isso. É nesse momento que percebemos como é grande a falta de segurança nas estradas”, concluiu.
O gaúcho Valdenir Milton Eich Filho, de São Luiz Gonzaga/RS, 38 anos de idade e 20 de profissão, comentou que até agosto desse ano trabalhava comissionado transportando arroz, mas a situação estava ficando cada dia mais difícil. Contou que houve redução do serviço e também do seu faturamento, mas em setembro conseguiu um trabalho com registro em carteira. “Apesar de não ser ainda o ideal, melhorou minha situação”, reconheceu. Lembra que para sobreviver a este ano cortou todos os gastos possíveis, inclusive com alimentação, passando a levar mantimentos para cozinhar no caminhão e evitar os restaurantes dos postos.
“Até roupa deixei de comprar. Tenho dois filhos e minhas prioridades são a minha família e conseguir pagar minhas despesas fixas”, afirmou. Valdenir admite que a crise lhe tirou da zona de conforto e o fez buscar novas oportunidades de trabalho que dessem mais segurança. “Sem contar que comecei a colocar tudo no papel e fazer contas”, afirmou. O carreteiro acredita que em 2017 será um ano mais tranquilo para sua família, já que deixou de depender de comissão. Sua meta é equilibrar o orçamento para juntar dinheiro e comprar um carro. “Esse é o meu objetivo para o ano que vem”, concluiu.
Há 18 anos na profissão, o também gaúcho de São Borja, Flávio Oliveira, tem 42 anos de idade e perdeu o emprego de motorista quando a empresa onde trabalhava fechou as portas. Comenta que apesar de ter conseguido rapidamente outra colocação seu ganho foi reduzido e não tem plano de saúde. “Agora não tenho condições de contratar outro. Antes ficava uma semana fora de casa e agora são 15 dias. A empresa que a minha esposa trabalhava também fechou. Então foi um ano difícil”, relatou.
Diante de tantas situações negativas, 2016 ajudou Flávio a encarar a profissão de uma outra maneira. Ele diz que aprendeu a economizar e agora coloca tudo no papel. “Não como mais em restaurantes de beira de estrada e faço as refeições na caixa. Acredito que quem se organizou e aprendeu a fazer contas vai conseguir sobreviver em 2017, mesmo com as dificuldades que surgirem”, opina.
Falando no próximo ano, ele acredita que a situação deve melhorar um pouco a partir do segundo semestre. Porém, adverte que é preciso ter cautela e se controlar, principalmente no final do ano, quando geralmente o movimento é menor. “A minha meta é juntar dinheiro e contratar um novo plano de saúde para a minha família”, destacou.
O autônomo Mauro Souza da Mata, 30 anos de idade e 10 de profissão, natural de Vitória da Conquista/BA, também confirma que 2016 foi um ano fraco de frete. Conta que em 2015 uma viagem de São Paulo até Salvador rendia R$ 5.500,00, mas hoje caiu para R$ 4.000,00. “Essa redução prejudicou o meu faturamento, porque os custos para transportar continuaram a subir”, disse. Pelos seus cálculos, a redução foi de 60%. Ele acrescenta que a situação começou a ficar ruim em outubro de 2015 e foi piorando ao longo de 2016. “Mas, nunca pensei que fosse ter saudade de 2015”, brincou.
Para se manter no mercado, Mauro procurou algumas alternativas, entre elas tirar o insulfilme dos vidros do caminhão e checar toda a documentação do veículo para evitar multas. Também deixou de fazer refeições em restaurantes e mantém a manutenção do caminhão em dia para evitar imprevistos na estrada. “Sempre me preocupei com esses detalhes, porém esse ano o cuidado foi redobrado, pois qualquer situação fora do planejamento pode me desestabilizar” reconhece, afirmando que hoje não consegue ganhar nem R$ 5.000 por mês. “Sinto que estou andando para traz”, desabafa.
Em sua opinião, ainda existem muitos amadores na profissão aceitando frete de qualquer valor e essa prática prejudica aqueles que sabem negociar. “Acredito que sobrevivi a essa crise porque sou bastante organizado e anoto todas as despesas. Para cada viagem finalizada eu separo um valor referente ao desgaste do caminhão”, explicou. Para 2017, pensa em tomar uma atitude radical caso o mercado não mostre sinais de melhora. “Se nos primeiros meses o movimento continuar fraco, e o frete desvalorizado, vou largar a profissão. Já estou estudando alternativas. Não posso insistir em um negócio que não me proporciona uma margem de lucro”, finalizou.
Vagner Robalo Chukul, de São Borja/RS, tem 30 anos de idade e apenas quatro de profissão e viaja para São Paulo, Minas Gerais e países do Mercosul. Ele contou que entre dezembro de 2015 e abril de 2016 ficou parado, pois a empresa onde trabalhava entrou em férias coletivas para tentar ajustar as contas. “Foi um ano complicado. Neste período fiz bicos para ajudar a pagar as contas fixas e reduzi praticamente todos os meus custos”, explicou. Lembrou que em maio conseguiu uma oportunidade de trabalho, mas fica mais tempo longe de casa. “Antes, estava em casa a cada três dias, mas agora permaneço entre 10 e 15 dias longe. É muito difícil”, diz. Com todas as mudanças sofridas em 2016, Vagner afirma ter aprendido a importância de estar com a planilha de custos bem organizada. “Imprevistos sempre podem acontecer e devemos estar preparados para estes momentos. Principalmente no caso dos colegas autônomos”, alerta. Seu o objetivo para 2017 é juntar dinheiro para comprar uma casa própria.
O autônomo Silvoney Gomes, 44 anos de idade e 20 de profissão, de Chapecó/SC, classifica 2016 como um ano “para sobreviver”. Conta que o faturamento caiu cerca de 40% e para se adaptar à nova realidade foi preciso fazer ajustes. “Restaurante? Nossa faz tempo! Agora é só na caixa do caminhão”, disse. Gomes é agregado e como o movimento da empresa para a qual presta serviço caiu, ele foi diretamente afetado.
“Minha vontade é de jogar a toalha. Mas não posso. Então para sobreviver nessa crise passei a controlar melhor os meus custos, a negociar o frete e, principalmente, cuidar bem do caminhão para não ter nenhum imprevisto”, relata. Sua expectativa para 2017 é boa, pois acredita que depois de fevereiro o mercado vai começar a se recuperar. “Acho que não pode piorar mais. Todos nós aprendemos com as dificuldades. Não está fácil para ninguém. O jeito é equilibrar as contas e seguir lutando”, aconselha.
Fonte: O Carreteiro | www.ocarreteiro.com.br
por Daniela Giopato
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